A internet é um espaço democrático? Um lugar onde todas as vozes são ouvidas e potencializadas? Onde todos têm voz e vez... Será mesmo?
As redes sociais, especialmente, ampliaram o acesso que temos à criadores de conteúdo e marcas cada vez mais diversas, plurais, interessantes. Porém, ainda existe um boicote forte com alguns assuntos, temas ou até mesmo cor de pele, além do estímulo à individualização e incentivo aos discursos de ódio.
Uma das grandes preocupações que tenho é com as bolhas formadas pelo algoritmo. E sendo super sincera, a menor das minhas preocupações é se o algoritmo vai entregar ou não o conteúdo que crio.
Por isso, nesse texto te convido a pensar sobre a democracia nos espaços digitais e a nossa relação atual com a internet.
Antes de tudo e de mais nada, deixo claro que a internet é incrível, as possibilidades que ela oferece também e não tem mais volta, justamente por isso estou aqui pontuando problemas e buscando possíveis soluções para que a gente possa aproveitar o melhor dela.
A consequência do algoritmo: bolhas sociais e polarização
O algoritmo forma bolhas sociais. Explicando de um jeito simples: você consome coisas que te agradam, que fazem sentido com a sua forma de pensar. Ou seja, você segue pessoas que falam sobre assuntos relacionados com consciência social, ambiental, produção artesanal etc.
Mas existem várias outras bolhas na internet. Tem aquele grupo de pessoas que consome conteúdos de família tradicional brasileira, que propagam comportamentos machistas como sendo o certo e o lucro acima de tudo e todos.
Isso acaba criando uma polarização muito grande, que é reflexo do que vemos hoje na nossa sociedade.
Pessoas pensando de formas completamente opostas e com enorme dificuldade em conviver juntas e conseguir dialogar. Não para concordar, necessariamente, mas para ouvir ambos os lados e formar sua opinião com base em informações verdadeiras e não apenas boatos (ou fake news).
"A ideia utópica de que a internet é um espaço multiplicador de vozes, uma arena democrática de expressão onde os usuários podem assumir o seu protagonismo no lugar de fala" - Ruediger, 2017.
Então quando você se vê dentro da sua bolha, é bem fácil pensar que o mundo está legal, que as pessoas estão "despertas", por exemplo... mas existem muitos mundos diferentes nesse mesmo planeta Terra.
Eu tenho um hábito de furar a bolha do algoritmo, que pode ser doloroso pra mim às vezes (e é, ainda mais em uma situação de pandemia e crise socioambiental), mas acho importantíssimo ter acesso a opiniões totalmente contrárias às minhas de tempos em tempos pra não ficar com uma visão isolada da realidade e/ou muito opositiva, sem qualquer possibilidade de diálogo ou compreensão ampliada.
Furando a bolha do algoritmo
De tempos em tempos eu pesquiso e consumo alguns conteúdos de pessoas que, na minha opinião, falam muita merda. Mas eu vejo, porque acho importante não me fechar 100% para esses seres humanos e suas visões de mundo, até mesmo para entender o que está rolando além da minha própria bolha.
É importante se blindar e manter sua saúde mental, mas também é igualmente importante furar a bolha tanto em questão pessoal, quanto em visão profissional, criativa e motivacional.
Não quero viver achando que o mundo tem "dois lados" e que esses lados não podem dialogar. Eu quero encontrar brechas de diálogo, porque é só assim que a gente consegue mudar de opinião de forma respeitosa.
Podemos não concordar, mas podemos, pelo menos, conversar?
Nem todo mundo está aberto ao diálogo - e se não está, é porque está fechado em uma bolha.
Você sente essa bolha muito forte aí?
O que você faz pra furar?
Pode ficar à vontade para comentar aqui ou conversar comigo sobre esse assunto.
Os espaços que ocupamos na internet são empresas
Acho muito essencial nessa discussão lembrar que todas as redes sociais que utilizamos para dialogar com as pessoas que amamos, para criar e cultivar relacionamentos e também para vender o nosso peixe são empresas. Toda empresa tem seu próprio regime, sua cultura, seus objetivos de negócios e suas premissas, não é diferente com esses espaços.
Considerando a situação atual e o que sabemos de cada uma dessas redes, não são empresas que buscam a democracia, na verdade são empresas capitalistas que monopolizam os espaços digitais (Google e Facebook como ótimo exemplo), dando quase espaço nenhum para novas redes sociais que vem a surgir. A competição é acirrada e isso reflete na forma como o fluxo de informações funciona para nós também, enquanto criadores e consumidores.
Com isso, chego à conclusão de que é lindo que possamos ter nossas vozes ouvidas através dessas mídias que são bem mais eficientes que os meios do passado, mas ainda sim é ingenuidade achar que esses espaços são democráticos, porque na base deles existe uma estrutura algorítmica que favorece o objetivo das empresas (por isso o excesso de anúncios e a necessidade de anunciar para entregar o conteúdo para a sua própria base de seguidores).
Nem vou entrar no mérito do racismo algorítmico e outras repercussões sociais negativas que acontecem e são tão gravíssimas, deixo a palavra para a Sue Coutinho que sabe muito sobre isso, se você quiser saber mais sobre esse viés.
Como estimular a democracia no espaço digital
Primeiro, entendendo o que é democracia.
Democracia é um regime político (considerando que toda ação é uma ação política) que tem como objetivo principal dar voz a todos e equidade no tratamento entre todos, estimulando decisões tomadas coletivamente, ou seja, tendo uma governança coletiva. O contrário de democracia é ditadura, que significa abuso de poder.
Entendendo isso, podemos ver que podemos criar e estimular espaços democráticos na internet com a criação de comunidades, debates em grupo, decisões tomadas por votação, transparência na comunicação, honestidade nos relacionamentos criados.
Podemos perceber a relevância, inclusive, da LGPD (lei geral de proteção dos dados pessoais), como um início de regulamentação que tem como objetivo uma participação maior do usuário sobre suas próprias informações.
Outra coisa bem interessante e possível que podemos fazer para estimular isso é consumindo, engajando e compartilhando pessoas, empresas e criadores de conteúdo que promovem reflexões e estão protagonizando espaços que ainda tem bastante invisibilidade. Vale a pena fazer uma limpeza em quem você segue e começar a seguir e acompanhar com base nos teus valores pessoais :)
Ações possíveis para estimular uma internet mais democrática
criação de comunidades
debates em grupo
decisões tomadas por votação
comunicação transparente
honestidade nas relações
consentimento do uso de dados
marketing consciente
informações acessíveis
Fico por aqui hoje e quero saber a sua opinião sobre esse assunto, hein?
Saiba mais sobre esse assunto
No nosso canal do YouTube tem vídeos bem interessantes do projeto coletivo Pra Começo de Conversa, onde abrimos uma série de conversas sobre futuro honesto, liderança, comunidades e negócios democráticos. Esse projeto foi realizado por mim, Késsile, junto com a Iza Barros, a Lai e a Grazi.
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Quem escreveu esse artigo?
Késsile Tanski, sócia fundadora da Direção, comunicadora, empreendedora, criadora de conteúdo, mãe de dois e entusiasta do slowliving :) Buscando a consciência em todas as áreas da vida.
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